PDAD

A Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD), realizada pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF), é um estudo que busca entender melhor a realidade socioeconômica dos moradores do Distrito Federal. No empreendedorismo feminino, ela desempenha um papel fundamental, trazendo à tona dados importantes sobre educação, renda, e perfil demográfico das mulheres. Essas informações ajudam a moldar políticas públicas e iniciativas de apoio, focadas em superar os desafios e criar oportunidades para que mais mulheres possam crescer e prosperar como empreendedoras, promovendo sua autonomia econômica e ampliando suas chances de sucesso.

Análise qualitativa dos principais indicadores PDAD

1.  Proporção de Homens e Mulheres

Pelo gráfico, nota-se que, no ano de 2021, há uma disparidade alta entre o número de empreendedores do sexo masculino e feminino. Além disso, houve um aumento pouco significativo na proporção de mulheres empreendedoras do ano de 2018 para 2021, passando de 36,55% para 38,12%. Isso demonstra a necessidade de aperfeiçoar as políticas públicas voltadas ao empreendedorismo feminino.

Quando analisamos essa distribuição entre as regiões administrativas, tem-se que, no ano de 2021, Sudoeste/ Octogonal, Águas Claras e Cruzeiro são as regiões com maior participação feminina com respectivamente 49,26%, 49,07% e 48,4%, enquanto que São Sebastião (24,34%), Itapoã (24,14%) e SIA (14,67%) são as com menores proporção. Nota-se que apesar do SIA ser 4º região administrativa com maior renda media entre os moradores, ele está entre as regiões com maior disparidade no número de empreendedores por sexo. Além disso, desconsiderando o SIA, nota-se que as regiões mais precárias são as com maior diferença entre as proporções, por exemplo, Fercal, Ceilândia, Sobradinho II e Varjão possuem 33% a 28% de mulheres empreendedoras.

Vale ressaltar também que, quando agregamos os dados por tipo de ocupação, temos que, no ano de 2021, temos uma maior paridade para a classe Profissional Universitário Autónomo, com uma razão sexo igual de 1,1, isso significa que para cada mulher temos 1,1 homens. Em relação aos sócios de cooperativas, 34,02% são mulheres com uma razão sexo de 1,94, representando a maior diferença entre os sexos por ocupação.

2. Proporção por Raça/Cor

O gráfico acima é a proporção de empreendedoras femininas por raça e cor no ano de 2021. Ele revela uma predominância de pessoas pardas e brancas, com uma participação menor de pessoas pretas e uma participação muito reduzida de pessoas indígenas e amarelas. As proporções demonstram uma disparidade significativa entre os maiores e menores grupos, onde pessoas pardas e brancas juntas somam aproximadamente 85.91%. Isso pode indicar um cenário de diversidade racial com forte concentração em dois grupos principais, uma vez que os pardos e brancos são frequentemente os maiores grupos populacionais.

Além disso, para esse mesmo ano, temos uma participação maior de mulheres pretas nas regiões do Varjão (28,96%), Paranoá (25,08%), SCIA (21,26%), Sobradinho II (18,8%) e Ceilândia (18,6%). Isso mostra uma maior proporção de mulheres negras em regiões mais carentes, representando um cenário de desigualdade que está relacionada a um complexo conjunto de fatores históricos, sociais e econômicos que se perpetuam ao longo do tempo.

Já em relação a ocupação, Profissional Universitário Autónomo apresentam uma predominância de mulheres brancas (55,78%). Além disso, essa ocupação é a que revela a maior proporção de mulheres amarela (6,61%). Por outro lado, os sócios de cooperativas possuem a maior proporção de mulheres pretas (19,71%).

3. Distribuição da Idade

O gráfico representa a distribuição da idade das empreendedoras no ano de 2021.Ele segue uma distribuição aproximadamente simétrica em forma de pirâmide, sugerindo que a população está mais concentrada em idades centrais, enquanto as extremidades mais jovens e mais velhas possuem uma menor quantidade de indivíduos. Isto é, a maioria das empreendedoras está concentrada entre os 30 e 50 anos, com uma queda na quantidade de indivíduos nas faixas etárias mais jovens e mais velhas. Além disso, não houve mudanças expressivas na distribuição de idade dos anos de 2018 para o de 2021.

Considerando a ocupação, essa distribuição muda consideravelmente. Por exemplo, para as donas de negócios familiar, a idade de 30 a 35 anos concentra o maio número de empreendedoras. Já para os profissionais liberais, a idade de 35-40 é a maior, e para as sócias de cooperativa é a faixa etária de 35-50. No entanto, quando analisamos as idades para as contas próprias, temos que ela segue uma distribuição semelhante aos dados gerais.

Em relação a raça/cor, as indígenas apresentam idades apenas nas faixas etária de 30-65 anos. Já a amarela, apresenta uma concentração atípica para empreendedoras de 65 anos ou mais. Além disso, as mulheres pretas se concentram e dois grupos: 35 a 40 anos e 45 a 50 anos.

4. Empreendedores por Escolaridade

O gráfico representa o número de empreendedoras por nível de escolaridade. A quantidade de mulheres com ensino médio completo e superior completo é praticamente igual. Diferentemente do sexo masculino onde o número de empreendedores com ensino médio completo é bastante maior com ensino superior completo. Isso demonstra que as empreendedoras são mais qualificadas que os homens.

No entanto, a parcela de empreendedoras negras com ensino superior completo (2.805) é bem menor que as com ensino médio completo (5.707). Um cenário oposto quando se compara com as empreendedoras brancas as quais a maior parte possui ensino superior completo (23.095) seguido do ensino médio (16.748).

5.  Renda e horas Trabalhadas por escolaridade

A tabela representa a renda e horas trabalhadas médias das empreendedoras no ano de 2021. As pessoas com ensino superior completo têm a maior média de renda, ganhando significativamente mais, e trabalham menos horas em média comparado a outros níveis de escolaridade. As mulheres que tem o ensino superior incompleto ganha menos da metade do que quem tem superior completo, porém trabalha mais horas. As empreendedoras sem instrução formal ganham o menor salário e trabalham o maior número de horas.

Em relação entre escolaridade e renda, há uma correlação clara entre nível de escolaridade e média de renda. Quanto maior o nível de educação, maior a média salarial. Já em relação entre escolaridade e horas trabalhadas, tem-se uma correlação negativa, isso é, quem tem menos escolaridade tende a trabalhar mais horas por semana.

Essa tabela reflete a importância da educação para a obtenção de melhores salários e melhores condições de trabalho. Pessoas com maior escolaridade tendem a ganhar mais e trabalhar menos horas, enquanto quem tem menos escolaridade acaba ganhando menos e trabalhando mais horas por semana, muitas vezes em condições menos favoráveis. Esses dados reforçam a correlação entre o nível de instrução e a qualidade de vida, indicando a importância de investimentos em educação para melhorar as oportunidades no mercado de trabalho.

Vale notar também que as empreendedoras pretas ganham em média 2.813 reais, valor muito inferior à média geral, enquanto que as mulheres branca ganham em média 5.070 reais e as parda, 3.862.  Em suma, entre as raças/cor, as mulheres pretas são as que ganham menos e trabalham mais.

Em relação a ocupação, as contas próprias e as sócias de cooperativas são as que ganham menos (3.7212 e 3.836 reais) e trabalham em média 73.86 e 69.77 horas

6. Porcentagem de empreendedores com CNPJ

Entre as mulheres empreendedoras, a maior parte das pessoas representadas no gráfico, cerca de 55,8%, não possui um CNPJ. Isso  pode refletir a dificuldade de formalização ou os custos e burocracias envolvidos no processo de registro de empresas, o que faz com que muitos empreendedores ou autônomos continuem na economia informal. A falta de CNPJ pode prejudicar o acesso ao crédito, uma vez que muitos bancos e instituições financeiras só fornecem condições vantajosas para empresas formalizadas, o que pode criar uma barreira para o crescimento dessas empreendedoras.

Além disso, as indígenas são as que apresentam maior porcentagem de informais (66,3%), enquanto que a raça amarela apresenta a menor (49,6%). Em relação a ocupação, as empreendedoras contas própria apresentam a maior porcentagem (61%) e as empregadoras a menor (26,4%).

7. Porcentagem de empreendedores que contribuem para a previdência

Entre as empreendedoras, no ano de 2021, 48,5% não contribuem para a previdência, quase metade. A falta de contribuição pode resultar na falta de cobertura previdenciária, como aposentadoria ou benefícios assistenciais no futuro. A não contribuição à previdência pode ser um reflexo da alta informalidade no mercado de trabalho. Essa não contribuição pode ter consequências de longo prazo, tanto para as empreendedoras, que ficarão sem suporte financeiro na aposentadoria, como para o Estado, que precisará fornecer algum tipo de assistência social para essas populações envelhecidas sem aposentadoria, o que pode pressionar ainda mais os sistemas de assistência pública. Dessa forma, são necessárias políticas públicas eficazes, com foco tanto na conscientização quanto na criação de meios para que mais pessoas possam se formalizar e contribuir para sua própria segurança financeira futura.

A distribuição por raça/cor é semelhante as proporções de mulheres empreendedoras sem CNPJ, com as indígenas apresentando a maior porcentagem (56,6%) e a raça amarela a menor (41,8%).  Além disso, as contas próprias apresentam a maior porcentagem de empreendedoras que não contribuem para a previdência, cerca de 53,1%.

8. Empreendedores por setor de Atividade

O gráfico representa o número de empreendedoras por setor de atividade no ano de 2021. Ele revela que as mulheres estão mais presentes em setores de serviços, comércio e áreas que envolvem cuidados e educação, enquanto sua participação é mais limitada em setores como indústria, agricultura e construção. Isso reflete padrões tradicionais de segregação ocupacional por gênero, onde as mulheres são mais concentradas em trabalhos de cuidado, hospitalidade e comércio, enquanto os homens dominam setores mais físicos e técnicos.

Por outro lado, há maior participação de empreendedores homens na construção, na prestação de serviço por aplicativo (transporte de passageiro, entrega de produtos ou serviços em geral) e na área de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas.

Isso reflete uma parte importante da estrutura da atividade empreendedora, destacando os setores com maior e menor presença de mulheres, além de indicar possíveis áreas de desigualdade de gênero. Dessa forma, iniciativas de inclusão e capacitação podem ajudar a mudar esse cenário de desigualdade.

9. tempo, em anos, na Atividade principal

O gráfico representa o tempo, em anos, que a empreendedora exerce a atividade, no ano de 2021.  Há uma concentração muito elevada de mulheres que estão nos primeiros anos de seu empreendimento, com destaque para o intervalo de 0 a 6 anos. Os primeiros três anos (0, 1, 2) têm uma quantidade significativamente alta de mulheres empreendedoras, sendo que os picos ocorrem no segundo e terceiro ano de atividade. Isso sugere que muitas mulheres estão entrando no mundo do empreendedorismo recentemente ou têm pouca experiência no mercado. É possível que essa alta concentração nos primeiros anos esteja associada ao aumento de políticas de incentivo, acessibilidade ao crédito ou ao aumento do empreendedorismo feminino.

A partir do sexto ano, a quantidade de mulheres empreendedoras começa a diminuir de forma mais acentuada. No entanto, ainda há uma quantidade significativa de mulheres entre 7 e 10 anos de atividade. Esse decréscimo pode estar relacionado aos desafios de manter um negócio no longo prazo, como competitividade, falta de recursos ou dificuldades com a gestão empresarial. É comum que empreendimento não sobrevivam após os primeiros anos de operação, refletindo uma possível “mortalidade empresarial” no setor.

Há picos notáveis observados no 10º, 20º e 30º ano de empreendedorismo. Essa característica pode ser esclarecida por meio do índice de Whipple, uma métrica que avalia a preferência digital, capturando a tendência humana de favorecer certos dígitos, especialmente o 0 e o 5. Esses números são frequentemente escolhidos quando as pessoas arredondam dados, uma prática comum conhecida como “preferência digital”.

Imagine um cenário em que um grupo de empreendedores relata a duração de seus negócios para uma pesquisa. Ao serem questionados sobre quantos anos estão à frente de seus empreendimentos, muitos podem arredondar para o número mais próximo que termina em 0 ou 5, em vez de fornecer uma resposta precisa. Esse fenômeno não é aleatório; é influenciado por vários fatores, como a simplicidade de comunicação, a facilidade de recordação ou até mesmo normas culturais e sociais que incentivam o arredondamento para números ‘redondos’ ou ‘completos’.

A preferência digital, embora pareça inofensiva, pode induzir a vieses e imprecisões nas informações coletadas, comprometendo a precisão das estatísticas e, por consequência, a qualidade das análises feitas a partir desses dados